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Por um ensino melhor para os nossos filhos

  • Foto do escritor: Té Carapinha
    Té Carapinha
  • 21 de abr. de 2017
  • 6 min de leitura

“Há escolas que são gaiolas e outras que são asas...(Rubem Alves)”

É numa escola que dê asas ao desenvolvimento de uma personalidade marcada pela autonomia, a responsabilidade social, a empatia, a solidariedade e o empreendedorismo; que estimule a inata e avida vontade de aprender, de perguntar e saber o “porquê”; que estimule criatividade, imaginação, raciocínio crítico, poder de análise, liberdade e confiança de expressão, que eu quero que o meu filho cresça. Salman Khan, um dos professores mais emblemáticos e dinâmicos na defesa de uma educação ativa e renovada do mundo, defende que hoje temos crianças do século XXI, a serem ensinadas por professores do século XX, a seguir modelos epistemológicos do século XIX. No século XIX as influências da Prússia militar, do Iluminismo francês e da revolução industrial na Inglaterra levaram à ideia de educação que ainda hoje perdura nas nossas escolas. A ideia de que podemos ensinar tudo a todos do mesmo modo. Felizmente existem já em Portugal vários focos de projetos educativos que dão uma alternativa mais justa, holística e adaptada a cada criança. Nestas “escolas” a “ensinagem” é adaptada às necessidades e motivações de aprendizagem de cada criança, em vez da obrigatoriedade da criança se adaptar a todo e qualquer programa estabelecido pelo professor e pelo sistema tradicional. Porque somos todos diferentes, não faz sentido que todas as crianças tenham de aprender no mesmo dia, as mesmas matérias, dadas ao mesmo ritmo, sentadas a escutar um professor, por vezes desmotivado, em modo de discurso monocórdico, ou desesperado em manter a atenção de uma turma com excessivo número de alunos. Para muitas crianças, se o processo de aprendizagem não for estimulante e ativo; não incluir texturas, cores, formas; se não for palpável, se não incluir “o fazer”; se não permitir seguir aquilo que as motiva e que lhes interessa aprender ou que vejam como útil e aplicável à vida e ao meio que os rodeia, elas pura e simplesmente desligam. São estas crianças, tão ou quiçá mais espertas e inteligentes que os considerados bons alunos (que recebem medalhas de mérito e têm a pauta cheia de cincos), que se veem marginalizadas pelo sistema, sendo acusadas de burrice e vistos como desestabilizadores, levando constantes recados negativos aos pais, esperando que estes os “ponham na linha”. O bullying de que tanto se fala existir hoje em dia nas escolas, não é só aplicado por meninos e meninas mal- comportados que resolvem fazer a vida negra a certos colegas. O principal bullying vem de cima, do próprio sistema educativo, que rotula, negativa e injustamente, crianças desde tenra idade, denegrindo a sua imagem perante pais, professores e colegas, incutindo nas suas personalidades em formação a ideia que são um falhanço, que não sabem aprender e tirar “muito bom” e que por isso não vão ser ninguém na vida. Este tipo de educação, ativa, dispensa aulas expositivas, testes e exames, campainhas a marcar horas fixas para aprendizagem de disciplinas segmentadas. Este tipo de educação propõe às crianças aprender por projetos monitorizados por professores\educadores\tutores, juntos numa sala comum, com crianças de idades diferentes a aprender juntas e a ensinarem-se umas às outras, sob orientação. Os projetos (exemplo: construir uma casa na árvore) partem de interesses e motivações de aprendizagem das crianças e é-lhes diluído todo um conjunto de conhecimentos académicos e outros, de forma a que as crianças aprendam o essencial e mais do que essencial ao mesmo tempo que fazem e criam e imaginam e projetam e procuram ativamente o conhecimento. Há um cuidado em desenvolver projetos que possam colaborar com a sociedade, no âmbito de dar às crianças um sentido de cidadania e fazê-las perceber que como seres sociais que somos, a aprendizagem só faz sentido se as crianças interagirem com outras escolas e instituições de ensino, com departamentos de cultura e outros serviços, com pessoas de diferentes idades, diferentes profissões, saberes e vivências. Os projetos contam com saídas ao ar livre, pesquisas de internet, de livros em bibliotecas, orientações de especialistas em diferentes matérias. Testes e exames são descartados por se considerar que não são prova de conhecimento e que fomentam o foco numa aprendizagem passiva e pouco eficaz, baseada em memorização e regurgitação da matéria lida (não necessariamente aprendida). Os projetos são normalmente apresentados para uma plateia constituída por pais, tutores\educadores e outros colegas de forma a fomentar o discurso em público e a expressão oral do conteúdo aprendido e interiorizado. Esta apresentação de projetos, de duração determinada pelos tutores e alunos em conjunto, é realizada quando os objetivos de aprendizagem forem completados e a criança sente que já sabe os conteúdos abordados. A avaliação da criança é diária e constante, passando pelo seu desempenho no desenrolar dos projetos e pela apresentação dos mesmos, mas também pelas caraterísticas de personalidade que desenvolve e a envolvência com a comunidade e tudo o que a rodeia. Estas escolas funcionam maioritariamente em regime de ensino doméstico, com necessária matrícula numa escola comum. As crianças são submetidas aos exames nacionais de quarto, sexto e nono ano como qualquer outra criança, tendo preparação para tais exames alguns meses antes da sua data. Uma outra faceta importante desta educação dita ativa é a preocupação em desenvolver seres pensantes e felizes, com um bom domínio emocional e uma personalidade trabalhada em inserção social, baseada não só em conceitos de autoestima e autoconfiança e responsabilidade e autonomia, mas também numa personalidade empática que respeite e zele pelo bem-estar da comunidade. Uma das grandes críticas que li acerca do ensino convencional é a falta de tempo e sensibilidade para o desenvolvimento da inteligência emocional a par com os conteúdos académicos. Os pais delegam muitas vezes à escola o papel de ensinar a falar de emoções sentidas, saber reconhecê-las e lidar com elas, no entanto, este ensino não parece estar a ser abordado de forma alguma. O resultado expressa-se em alunos de medalhas de mérito a demonstrarem parcos skills de interação social, pouca preocupação com o próximo e até fraca autoestima. Em várias escolas de educação ativa não existe diretor, sendo as escolas dirigidas pelos tutores, pelos pais e pela assembleia de alunos em conjunto. As assembleias são compostas por alunos de diferentes idades, elegidos para o lugar, tendo como função tentarem resolver os desafios que surgem no dia a dia, seja referente a um aluno em particular ou à escola como um todo. Deste modo, as crianças aprendem uma série de faculdades desde a compreensão de papéis sociais; a dever e responsabilidade civil; skills de resolução de problemas; melhor compreensão da dinâmica política e autarca, entre outros. Desde que o meu filho Tomás, de dois anos, foi concebido (ainda antes de nascer) que eu e o pai nos dedicámos a ler livros sobre pedagogia infantil, educação, inteligência emocional, entre outros temas que nos dessem informação suficiente numa área que até então não nos dizia nada. Comecei a ficar familiarizada com termos como “educação viva” e “escola ativa”. Um dia, durante pesquisa sobre palestras em educação, encontrei um documentário no YOUTUBE “A Educação Proibida - Filme completo em HD (áudio Português)” que motivou bastante a minha procura por uma escola do género, em Portugal e que aconselho o visionamento por qualquer pai minimamente interessado numa educação mais harmoniosa para o seu filho(a). Eu e o meu marido ficámos bastante surpreendidos mas felizes por perceber que havia cá a “escola com que sempre sonhámos mas não pensámos existir”. Residimos em Beja e como tal explorámos todas as hipóteses mais próximas. Não pensámos que fosse possível criar um projeto do género em Beja (infelizmente aquela mentalidade que por vezes a todos assola de que nada se passa no Alentejo) e orientámos a vida para que fosse possível mudarmo-nos para o Norte, perto de Leça da Palmeira, onde existe o colégio dentro da Rede Educação Viva que mais nos encheu as medidas (projeto Os Eres) para colocar o Tomás. No entanto, e após a vinda a Beja no início de Março deste ano, do professor José Pacheco, fundador da única escola pública em Portugal que há mais de 40 anos leciona no modo de educação ativa (Escola da Ponte – Vila das Aves, Santo Tirso), começámos a perceber que haveriam vários pais e professores eventualmente interessados em juntar esforços para que as crianças em Beja tenham opção de escolha em educação. Para já não é nossa intenção deitar por terra os nossos planos de mudança para o norte nem a entrada do Tomás n Os Eres. No entanto, eu gostaria de colaborar naquilo que me for possível, num esforço conjunto de ter em Beja uma escola ativa. São vários os passos a dar e a seu tempo serão apresentados e descritos pelos devidos orientadores de projetos na área. Para já o mais imediato será reunir pais, educadores, professores ou outros interessados em saber mais sobre as nuances deste possível projeto a desenvolver.

Texto de Nídia Santos

Desta forma, convidamos todos os interessados em colaborar neste projeto a entrar em contacto connosco para que possamos apostar no seu desenvolvimento através do email nidiamonteiro.chiro@gmail.com


 
 
 

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